9.03.2008

Doje't

Estou sozinho, e o café com leite me faz companhia. Em silêncio, mas o ventilador enche o recinto com seu zuniar relativamente leve (sim, eu mesmo criei a palavra zuniar). Fico lembrando, acrescentando talvez um leve resquício caricaturado em suas gesticulações e expressões faciais, um homem quase velho, amazonida, que partilhava dois terços de tudo que ganhava, divagando subitamente sobre hábitos. Hábito, do Latim habitu. Ressaltava o sentido de algo que vestimos. Roupagem muitas vezes difícil de trocar. Lembro que apesar de toda aparência indígena, carregava um timbre que me soava muito familiar, falava como o meu avô.

Estavam numa sala fechada, inusitada, e os acordes nascentes dum aparelho celular começaram a construir ambiente onde sopro transversal logo tomou e encheu, rodopiando como brisa mais suave do que brisas reais. Entreolharam-se e tudo estava dito, os ânimos aceleraram, aqueceram-se naquele quase nervosismo... Mas havia uma pessoa no lugar, uma terceira pessoa, que quase não se apercebia do papel de estorvo que assumia. Quando estorvo deixou de existir entre os dois, um mar invadiu suas vidas, encostaram-se mal a pele e logo ela estava ali, tão familiar, preparando uma mesa cheia de doces vistosos, para mais um aniversário, talvez de um filho. Aquele momento inicial, num lugar incomum, era mais que uma paixão repentina, era mais do que o cinema ensina, era a vida deles se revirando, desabrochar encantador... E eu chorei acordando.