5.28.2008

O perfeito idiota

Vocês já ouviram falar sobre o perfeito idiota latino-americano? Aquele tipão, esquerdista, frustrado, que tende a entender o sucesso alheio como seu motivo de fracasso, e deposita na iniciativa estatal a única e verdadeira ação que pode, miraculosamente, curar todos os males. Já esbarrou num discurso desses? Imagino que sim. Eu mesmo já notei muitos universotários que caminham por essas veredas, aprendendo a engolir esses discursos reacionários que ainda demonizam a globalização, como se ainda fossemos índios imaculados que necessitam proteger-se da exploração macabra que vem de fora. Quando eu era menino, até fazia sentido, mas, observando racionalmente, essas idéias soam frágeis.

Através de investimentos estrangeiros, mesmo em países pobres ou sem recursos naturais, muita gente saiu da miséria e alguns países se nivelaram a países desenvolvidos. Cingapura, Espanha, Irlanda, Nova Zelândia e outros estão caminhando. Por outro lado muitos sofrem com a miséria justamente pela falta de investimento estrangeiro, e ou, pelo próprio sistema econômico que é falho. É difícil para o idiota associar o sucesso ao trabalho, e é muito fácil para ele, desassociar o continuo fracasso a própria incompetência. Ele não concebe a idéia de que o trabalho, com interação e inteligência, promove o desenvolvimento, nem que esse trabalho deva ser realizado por toda população, não estando somente na mão do Estado, e não aceita que, para quem estiver disposto a isso (trabalho), a globalização muito mais ajuda do que atrapalha.

Hoje de manhã eu ouvi o Lula falar “a Amazônia tem dono”... Achei até que ele fosse vociferar em seguida: “e sou eu!!”. Mas o Lula não pode bancar o idiota aqui dentro, apesar de se encaixar bem no perfil, completou com: “o povo brasileiro”. Eu sinceramente não sei o quanto realmente a internacionalização da Amazônia pode ser nociva ou benéfica. Desconfio, porém, que o discurso popular e aterrorizante de que estão querendo nos roubar a Amazônia é fruto do pensamento medíocre dos perfeitos idiotas latino-americanos, e de exploradores nacionais que querem continuar bancando o cavalo do cão por aqui.

Você pode encontrar o Idiota destrinchado nos livros O Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano, e A Volta do Idiota, do trio Plínio Mendoza, Calros Alberto Montaner e Álvaro Vargas Llosa.

Beijos e carnes

5.26.2008

Metodologia de nada

Outro dia a minha aula de metodologia de estudo desandou para uma discussão sobre o orkut. Importante ressaltar que discussão é a investigação da verdade pelo exame das razões e provas que se oferecem pró e contra (Larousse Cultural, Dicionário da língua portuguesa que eu ainda não devolvi pro meu tio, 1992), mas na minha sala de aula, uma discussão verdadeira, consiste na explosão desesperada de carência de auto-afirmação. O fato é que o foco da aula foi parar no orkut. Talvez numa tentativa de democratização do assunto das discussões, afinal, apenas professores que compraram suas pós-graduações em finas padarias paulistanas podem ter bagagem para falar sobre como organizar um trabalho científico, de orkut, porém, qualquer semi-analfabeto fala.

No Brasil, diga-se numa afirmação quase tão anti-jornalística quanto todo esse texto, nem todo mundo tem CPF, mas praticamente todo mundo tem orkut. Nuns tempos atrás seria legal dizer “cara, até meu pai tem orkut”. Hoje, até as vovozinhas menos descoladas já estão na rosa rede de relacionamentos.

Na ocasião do arranca rabo desvairado, a maioria dos alunos se posicionou contra a página, estranhamente esse alunos gritavam e cortavam indelicadamente os discursos uns dos outros, repetindo as mesmas opiniões, porém numa postura de quem discordava do que acabava de ser dito. Aquilo foi um pouco assustador, as pessoas estavam beirando ir às tapas, porque concordavam, mas não percebiam. Eu permaneci quase em silêncio. Não que eu não tenha carência, é que não me deixaram falar mesmo.

Fiquei matutando sobre o meu perfil, não é do tipo mais popular, praticamente não recebo e raramente mando scraps, existe um grupo de cerca de cinco pessoas que visitam semanalmente a minha página e nunca deixam recados, tenho poucos contatos, e quando não tenho o que fazer brinco de deletar pessoas, o que diminui ainda mais minha lista. Dessa lista, 61 estão na minha lista de fãs... é aí que entra realmente a questão que eu estranho e comento. Que raios quer dizer alguém, quando se coloca como fã de outro alguém?

No princípio, os dez primeiros, foi uma massagem no ego, e eu andava pelas ruas que nem o emo-aranha. Depois comecei a observar que muitas pessoas ali nem me conheciam, e que os outros perfis tinham trocentas pessoas na lista de fãs, porque eu só tinha trinta? Tudo bem, acontece, as pessoas se adicionam como fãs para que os “ídolos” se adicionem como fãs no perfil das pessoas, e assim o número de fãs fica vistoso, e a massagem no ego, constante. Eu, como sou chato, não me considero fã de muita gente, e não entrei nessa. Tudo bem, então esse papo de fã é conversa fiada e fim.

O problema é que algumas criaturas chagaram a me mandar recados do tipo: “cara, você é incrível, escreve muito bem, que viagem louca, eu sou seu fã!! Quero ser que nem você quando crescer e meu filho levará no primeiro nome o seu apelido!!” E essas mesmas pessoas cruzam comigo na rua e nem me dão bom dia, nem um aceno com a cabeça, nem um sorriso de leve, nem oi, nem “com licença, obrigado”, nada! Um pouco menos de misantropia e um pouco mais de carência eu estaria lascado. Seria como o Marvin, o robozinho de Douglas Adams, que, aliás, talvez tenha sido um autor quase interessante. E o que isso tem haver com aquilo? Pois é... nada.

Beijos e carnes.