5.26.2008

Metodologia de nada

Outro dia a minha aula de metodologia de estudo desandou para uma discussão sobre o orkut. Importante ressaltar que discussão é a investigação da verdade pelo exame das razões e provas que se oferecem pró e contra (Larousse Cultural, Dicionário da língua portuguesa que eu ainda não devolvi pro meu tio, 1992), mas na minha sala de aula, uma discussão verdadeira, consiste na explosão desesperada de carência de auto-afirmação. O fato é que o foco da aula foi parar no orkut. Talvez numa tentativa de democratização do assunto das discussões, afinal, apenas professores que compraram suas pós-graduações em finas padarias paulistanas podem ter bagagem para falar sobre como organizar um trabalho científico, de orkut, porém, qualquer semi-analfabeto fala.

No Brasil, diga-se numa afirmação quase tão anti-jornalística quanto todo esse texto, nem todo mundo tem CPF, mas praticamente todo mundo tem orkut. Nuns tempos atrás seria legal dizer “cara, até meu pai tem orkut”. Hoje, até as vovozinhas menos descoladas já estão na rosa rede de relacionamentos.

Na ocasião do arranca rabo desvairado, a maioria dos alunos se posicionou contra a página, estranhamente esse alunos gritavam e cortavam indelicadamente os discursos uns dos outros, repetindo as mesmas opiniões, porém numa postura de quem discordava do que acabava de ser dito. Aquilo foi um pouco assustador, as pessoas estavam beirando ir às tapas, porque concordavam, mas não percebiam. Eu permaneci quase em silêncio. Não que eu não tenha carência, é que não me deixaram falar mesmo.

Fiquei matutando sobre o meu perfil, não é do tipo mais popular, praticamente não recebo e raramente mando scraps, existe um grupo de cerca de cinco pessoas que visitam semanalmente a minha página e nunca deixam recados, tenho poucos contatos, e quando não tenho o que fazer brinco de deletar pessoas, o que diminui ainda mais minha lista. Dessa lista, 61 estão na minha lista de fãs... é aí que entra realmente a questão que eu estranho e comento. Que raios quer dizer alguém, quando se coloca como fã de outro alguém?

No princípio, os dez primeiros, foi uma massagem no ego, e eu andava pelas ruas que nem o emo-aranha. Depois comecei a observar que muitas pessoas ali nem me conheciam, e que os outros perfis tinham trocentas pessoas na lista de fãs, porque eu só tinha trinta? Tudo bem, acontece, as pessoas se adicionam como fãs para que os “ídolos” se adicionem como fãs no perfil das pessoas, e assim o número de fãs fica vistoso, e a massagem no ego, constante. Eu, como sou chato, não me considero fã de muita gente, e não entrei nessa. Tudo bem, então esse papo de fã é conversa fiada e fim.

O problema é que algumas criaturas chagaram a me mandar recados do tipo: “cara, você é incrível, escreve muito bem, que viagem louca, eu sou seu fã!! Quero ser que nem você quando crescer e meu filho levará no primeiro nome o seu apelido!!” E essas mesmas pessoas cruzam comigo na rua e nem me dão bom dia, nem um aceno com a cabeça, nem um sorriso de leve, nem oi, nem “com licença, obrigado”, nada! Um pouco menos de misantropia e um pouco mais de carência eu estaria lascado. Seria como o Marvin, o robozinho de Douglas Adams, que, aliás, talvez tenha sido um autor quase interessante. E o que isso tem haver com aquilo? Pois é... nada.

Beijos e carnes.

3 comentários:

ODAIR J. ALVES disse...

Estive lendo seus textos e gostei muito..parabens.
voltarei sempre...
um abraço

Mary, A disse...

ai, ai...

Imyra Isipon disse...

Eu te daria bom dia...